Mais de 60% dos pacientes que vieram a óbito em decorrência da Covid-19 em Santa Maria tinham registro de doença cardiovascular

Arianne Lima

Mais de 60% dos pacientes que vieram a óbito em decorrência da Covid-19 em Santa Maria tinham registro de doença cardiovascular
Foto: Renan Mattos/arquivo Diário

Santa Maria contabiliza 1.005 óbitos em decorrência da Covid-19 desde o início da pandemia, em 2020. Apenas em 2022, foram registradas 154 mortes. Com base nos comunicados oficiais emitidos pela prefeitura, o Diário analisou o quadro dos pacientes. A partir do levantamento, foi constatado que mais de 60% dos pacientes que vieram a óbito devido a Covid-19 tinham registro de doença cardiovascular.

Doença neurológica crônica, diabetes e hipertensão também aparecem em diversos quadros. Ao Diário, a médica infectologista, Rafaela Mafaciolli, explica como determinadas comorbidades contribuem para o agravamento do quadro do paciente que recebeu o diagnóstico positivo para a Covid-19.

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Levantamento

O levantamento baseia-se nos dados de comunicados oficiais emitidos pela prefeitura de Santa Maria entre 14 de janeiro de 2022 e 4 de janeiro de 2023, quando foi divulgado o último óbito de 2022 em 31 de dezembro. A equipe analisou dados como sexo, idade, comorbidades, data de confirmação do diagnóstico de Covid-19, data de óbito, data e local de internação.

Em 2022, 80 homens, 73 mulheres e uma criança morreram por conta da doença. Fora a criança de sete anos, a faixa etária das demais vítimas era de 34 a 102 anos.

Além de dois usuários que deram entrada e foram a óbito na Unidade de Pronto-Atendimento 24h (UPA), não chegando a ser encaminhados para espaços hospitalares, foram internados pacientes nas seguintes instituições: Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, Casa de Saúde, Hospital Regional de Santa Maria, Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), Hospital Geral de Santa Maria, Hospital de Caridade de Santiago e Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí – SC.

Com relação ao quadro de saúde dos pacientes analisados, destaca-se que das 154 mortes em decorrência da Covid-19 registradas em Santa Maria, 136 foram de pessoas que apresentavam uma ou mais comorbidades e 17 não tinham nenhuma, além um paciente que não teve o registro fornecido. Do quantitativo com comorbidades, registra-se que:

84 pacientes tinham doença cardiovascular (62% do total)

47 pacientes tinham doença neurológica crônica (34,5%)

36 pacientes tinham diabetes (26,4%)

24 pacientes tinham hipertensão (18%)

21 pacientes tinham pneumopatia crônica (15,4%)

11 pacientes tinham doença renal (8%)

10 pacientes tinham registro de obesidade (7,35%)

9 pacientes tinham doença hematológica crônica (7%)

Além disso, registros de imunodeficiência, neoplasia, câncer, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, síndrome de Down, Alzheimer, linfoma, tumor facial em fase terminal, hipotireodismo, demência, transplante, insuficiência, pós cirurgico, artrite, doença hepática crônica, doença de Crohn e embolia pulmonar também aparecem no quadro das vítimas.

Análise

Para analisar o cenário, a médica infectologista, Rafaela Mafaciolli, afirma que é preciso considerar algumas características do vírus, como por exemplo, a afinidade por determinados órgãos:

– Sabemos que o pulmão é um deles, obviamente, porque é ali que ele se instala e causa os principais sintomas da doença. Mas o vírus também tem um tropismo pelo coração. A Covid-19 causa uma reação inflamatória muito grande neste órgão. A partir disso, as pessoas que já tem comorbidade cardíaca acabam piorando e indo a óbito. Então, vemos que há uma maior chance, que essas pessoas estão mais suscetivéis ao óbito em decorrência da doença por causa desta inflamação.

Rafaela explica que, em muitos casos, a faixa etária não tem sido um fator relevante, o que ainda revela-se uma incógnita para muitos pesquisadores. Já o nível de comprometimento do corpo ao ser contaminado pela Covid-19 tende a ser maior quando há registro de comorbidades.

– Sabemos que pacientes que tem doenças crônicas, por exemplo, hipertensão, diabetes ou que já tiveram uma doença cardíaca prévia como um infarto ou insufiência cardíaca, fazem parte do grupo de maior risco. Então, eles acabam tendo a pré disposição para desenvolver a forma grave, por apresentar também alterações no sistema imunológico. Querendo ou não, as pessoas que já têm alguma doença sobreposta tem um estado inflamatório crônico. A Covid-19 faz com que o nosso sistema inflamatório trabalhe mais, então, a inflamação é muito maior – argumenta.

A importância da vacinação

Conforme Rafaela, no início da pandemia de coronavírus em 2020, ninguém tinha anticorpos contra o vírus e ao contrair a doença, muitas pessoas acabavam apresentando quadros mais graves, principalmente aquelas que apresentam doença cardiovascular. Com a vacinação, o cenário tem mudado:

– Na parte cardíaca, e isso pode servir para outros órgãos… quando o vírus está afetando o coração, ele irá fazer indiretamente uma tempestade de citocina inflamatória. Muitas pessoas desenvolviam essa inflamação de forma grave. Como eles não tinham anticorpos, acabavam sofrendo com esta tempestade e indo a óbito. Agora, a vacina faz esta proteção para que, quando tivermos contato com o vírus, o nosso corpo não tenha essa inflamação de forma tão grave, porque ele já conhece.

Além de reduzir sintomas, os imunizantes também vêm diminuindo o número de internações hospitalares por conta da doença.

– O que vemos hoje é que o paciente internou e acaba descobrindo que está com Covid-19, mas estava assintomático. Ele não está internando pelo Covid-19. E do que isso resulta? Da vacinação, que vem protegendo muita gente – pontua Rafaela.

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